O livro que apresenta a teoria de Batinder não é recente. “O mito do amor materno” teve sua primeira edição em 1981. Não é difícil concluir, portanto, que as observações nas quais a autora se baseou remontam majoritariamente ao período das décadas de 60 e, principalmente, 70, isto é, imediatamente posterior às revoluções sexual e estudantil que convulsionaram a cultura ocidental no século XX. Salientar este aspecto não é sem importância, pois foi a partir deste recorte espaço-temporal que Batinder viu-se em condições de criar uma regra geral pretensamente válida universalmente. Mas será que as coisas são mesmo assim? Quem é a mulher ocidental e, mais especificamente, a européia, pós-revoluções da década de 60?
A mulher ocidental pós-revoluções de 60 é a mulher que testemunhou a banalização do divórcio e a ruína de sua família, que experimentou maconha, cocaína e LSD, que ingressou nas seitas new age, que reivindicou igualdade entre os sexos, que lutou por espaço no mundo do trabalho e que praticou o chamado sexo livre, isto é, o sexo sem compromisso, meramente recreativo, com quantos quisesse e quando quisesse. Ou seja, esta não é uma mulher normal, historicamente falando, mas uma mulher que sofreu, em um curtíssimo espaço de tempo, o impacto intenso de um grande número de mudanças dramáticas em seu modo de ser. E, de lá para cá, tais tendências e práticas tornaram-se mais e mais comuns, de maneira que o que inicialmente parecia exceção acabou por tornar-se regra.
Como, portanto, essa mesma mulher, ao descobrir-se mãe e ser de todo absorvida pela maternidade não pareceria entediada e alienada ao cuidar de suas crianças em um parquinho, já que seus filhos são o resultado indesejado de “uma transa” qualquer? Como não encarar a vida dura e rotineira do dia a dia familiar com uma disposição semelhante àquela do beberrão que sofre com a enxaqueca no dia seguinte ao porre? Como harmonizar as promessas mentirosas dos revolucionários com as verdades simples do cotidiano sem grande dose de frustração e ressentimento? E como hoje, passado meio século, não ouvir as afirmações de Batinder sem que elas soem repletas de verdade e respaldadas pela realidade que nos circunda?
Repito, no entanto, a pergunta que fiz acima: será que as coisas são mesmo assim? E acrescento: teria Batinder desmascarado a mentira ancestral que nos aprisionou durante tanto tempo?A resposta é simples: não. A mulher “sem instinto materno”, a mulher “vítima do patriarcado”, a mulher “entediada e alienada na vida doméstica” é a mulher estrategicamente planejada pelos revolucionários em sua luta pela destruição da “família burguesa”. De modo algum essa mulher, que infelizmente corresponde a quem muitas de nós nos tornamos nos dias atuais, é fruto espontâneo da história, resultado do natural desenrolar dos eventos, nascida de suas escolhas e decisões. Não. Ela é uma mulher artificial, postiça, fabricada, desenhada para a sua própria destruição e daqueles que estiverem sob o seu controle. (Para conseguir compreender de fato o que estou dizendo seria necessário um parênteses enorme para explicitar muito da história da origem do movimento feminista — não como as feministas o contam, adulterando o passado, mas como ele foi de fato –, entretanto, este não é o assunto do post e não há espaço suficiente aqui para tanto).
Agora, todavia, surge o dilema: uma vez que essa mulher artificial tenha se tornado a regra em nossos dias, onipresente ao nosso redor e também entronizada em nosso interior, como conseguir discernir a mulher verdadeira, aquela que se manteve basicamente a mesma ao longo dos séculos, dos milênios, que era feliz por ser quem era e sustinha a própria sociedade ao assumir seu papel no coração da família? Expandindo nosso horizonte histórico, olhando para além do que a viseira revolucionária nos permite ver, reunindo uma amostra variada de mulheres exemplares que, na peculiaridade de suas vidas individuais, dão testemunho de realizar à perfeição, apesar de seus limites, aquilo para que foram criadas por Deus. Sim, Deus e a natureza precisam voltar a participar de nossa vida e de nossa cosmovisão. Não há outro modo para retomar o fio da meada da história; não há outro modo de livrar-se do feminismo; não há outro modo de restaurar a feminilidade como ela de fato é e de encontrar alegria nisso.
O trabalho é árduo. Exige esforço, pesquisa, e principalmente o afastamento de uma série de hábitos e — muito provavelmente — de companhias que nos puxam em direção ao automatismo e à artificialidade do discurso feminista contemporâneo. Mas vale a pena. Reencontrar-se, redescobrir-se e poder desfrutar com maturidade das dificuldades e alegrias reservadas ao sexo feminino é um presente especial destinado àquelas que não querem mais a farsa, que não querem reinventar a roda, que não querem negar a história, que não querem negar a natureza, que não querem negar o instinto, que não querem negar a Deus. Assim, Elisabeth Batinder que me desculpe, mas mesmo debaixo de tantas camadas acumuladas em meio século de farsa e de loucura, a mulher verdadeira nunca deixou de existir em cada mulher individual: é preciso decidir-se por ela e, mais do que nunca, em nossos dias, por ela lutar.
Olá! Muito bom teu texto.
O botão do twitter não esta compartilhando, mas tentando ir para uma que não existe. Tentei compartilhar lá automaticamente e não foi possível. Só para te avisar. Obrigada, Aline
Parabéns Camila. É engraçado ver que justamente o que parte dessas mulheres criticaram tanto no mundo masculino é o que elas tem buscado para si como condição de liberdade.
Oi, Aline.
O botão não está funcionando porque não tenho twitter para o Encontrando. 🙂
Para compartilhar no twitter só copiando o link e colando mesmo. 😉
Beijos!
Ótima reflexão!