Quando eu era garota e atéia, detestava essa época do ano. Na verdade, o sentido do Natal me escapava por completo, tudo parecia uma grande desculpa do comércio – para ganhar dinheiro – e das famílias – para alimentar hipocrisias -, repetindo anualmente os seus rituais de auto-legitimação. Sim, eu já pensei e fui assim. E todo ano, por vários anos, detestava a repetição do Natal.
De certa forma, é verdade que o Natal é uma repetição. E bem pode ser verdade que muita gente só pense em lucrar ou em suportar diplomaticamente o convívio com parentes inconvenientes – quantas Camilas há por aí! Contudo, o sentido da repetição exprime-se em outros termos: “até que Ele venha”. É por isso – hoje eu sei – que tudo se repete: para que jamais O esqueçamos, porque Ele virá mais uma vez, conforme prometido. Assim, enquanto Ele não vem, prosseguimos repetindo, ano após ano, guiados pelo Calendário litúrgico, cada um dos passos de sua vida, desde a sua concepção e nascimento até sua morte e ressurreição.
Mas que novidade pode haver nisso tudo, uma festa celebrada há mais de dois milênios? A novidade é o nascimento do divino bebezinho. É Ele – e só Ele -, com o seu nascimento, que é capaz de fazer novas todas as coisas. Não do nosso jeito, nós que cortamos cabelos, compramos roupas, viajamos, fazemos dietas, exercícios e achamos – ou melhor, “desejamos ansiosamente” não soa mais preciso? – que por causa disso somos novas pessoas. Não. Ele faz nova todas as coisas desde dentro, silenciosa e imperceptivelmente, desde o lugar mais oculto e afastado dos olhos, que é o nosso coração. Quando este maravilhoso bebezinho nasce em nossos corações, então Ele traz a redenção tão aguardada, a novidade de vida tão esperada e tão necessária. Ele faz novas todas as coisas!
Parece impossível, parece irreal, parece mágica… O nome mais adequado, no entanto, é milagre. O milagre da fé, a fé que crê em um Deus que se fez homem e habitou entre nós com toda a humildade, para, descendo até nossa humilhante condição de completo desamparo, resgatar-nos e transformar-nos à semelhança de sua excelsa pessoa. Esta é a repetição da melhor e maior novidade celebrada a cada Natal.
Que o menino Jesus nasça em nossos corações e renove ainda mais a nossa vida, mais uma vez.
Um feliz e santo Natal,
da minha para a sua família.

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