Semanas atrás eu e Chloe fomos ao shopping comprar um casaco novo para ela. Chegando lá, fomos à Renner pesquisar os preços. Não demorou muito para que a atmosfera da loja começasse a envolvê-la: as muitas luzes, os muitos espelhos, as muitas roupas, os muitos aromas e a música altíssima e acelarada fizeram com que minha filha começasse a se mexer de um lado para o outro feito uma baratinha tonta, querendo olhar tudo, tocar tudo, provar tudo. Foi então que calmamente me abaixei e falei com ela. Chamei a sua atenção para a música, para os espelhos, para os cheiros, para o modo como a maioria das outras pessoas se comportavam e perguntei se ela tinha reparado como nada daquilo era natural, como nada parecia normal, como as pessoas pareciam meio fora de si, olhando, olhando, andando, andando, comprando, comprando… Ela, surpreendida com o fato, concordou comigo. Disse-lhe, então, que tudo aquilo era de propósito: tudo era mais colorido, mais bonito, mais perfumado e mais acelerado justamente para que as pessoas “entrassem no clima” e comprassem muito mais do que precisavam, pois a loja ganharia mais dinheiro assim. Dali em diante, em alguma medida, Chloe pareceu tomar uma maior consciência de si e do entorno, refreando-se, embora ainda olhasse as coisas e comentasse vez por outra sobre algumas delas.
Hoje, enquanto estávamos na fila do pão, em nossa frente estava uma moça falando ao telefone. Chloe ainda não tem aqueles pudores de adultos e quando acha alguém interessante de algum modo, fica olhando mesmo. A moça, no entanto, não era exatamente interessante, mas, em verdade, tão extravagante que parecia uma prostituta. Reparei na atenção com que Chloe a observava e fiquei aguardando suas reações. Não demorou para que, quando nos afastamos, ela elogiasse a “beleza” da moça, dizendo que gostaria de ser como ela quando crescesse. Foi então que disse: “filha, aquela moça não estava bonita de verdade, ela estava vulgar”. Claro que a pergunta sobre o que é vulgaridade não demorou, então expliquei que uma mulher vulgar é aquela que veste-se e comporta-se de uma maneira que chama muito a atenção dos homens, mas não para que eles queiram casar com ela, mas apenas divertir-se e depois abandoná-la. Ela, então, instantaneamente mudou sua opinião, dizendo que não queria ser vulgar, mas apenas bonita, para que o futuro marido quisesse casar com ela. E eu sorri dizendo que isso sim é que estava certo.
Sabe, por certo há quem pense que explicações dos tipos que ofereci à minha filha são excessivas ou erradas, que ela é muito jovem para compreender tais coisas, etc. No entanto, embora não espere que ela compreenda tudo ou que ela jamais esqueça as minhas explicações, percebi que, em ambos os casos, aquilo que disse fez sentido para ela e, de certa forma, preservou-lhe de influências que ela ainda não consegue discernir. Claro, assim como existe uma faixa etária na qual explicações não fazem o menor sentido (refiro-me aos bebês até 2, 3 anos de idade), cada idade seguinte merece um tipo diferente de explicação e Deus precisa dar sabedoria aos pais para que, sob determinadas circunstâncias (não todas), saibam como livrar seus filhos daquilo que é nocivo expondo a maldade que deles se aproxima, pois, às vezes, mostrar o motivo pelo qual algo se torna indevido é mais eficaz do que simplesmente rejeitar ou coibir opiniões e comportamentos. Mas, para isso, como disse, é preciso sabedoria vinda de Deus e confiança no desenvolvimento e na capacidade de compreensão da criança. Por outro lado, subestimar a capacidade compreensiva da criança (proporcional a cada idade) é conformá-la a uma ignorância e a uma ingenuidade perigosas, que a tornam eternamente dependente da proteção dos pais e eternamente suscetível às influências do entorno. Assim como superestimá-la é forçar seu amadurecimento, é violar sua integridade psíquica e emocional, podendo causar sérios danos futuros.
Que sejamos como o sábio, apto a discernir o tempo e o modo de cada coisa na educação de nossos filhos.
Concordo plenamente com você. Também vivenciamos algumas situações semelhantes com nosso mais velho(4 anos) outro dia com relação às propagandas de brinquedos exibidas na TV e todo o apelo feito para que as crianças se maravilhem com as 'coisas'. Explicamos que eles fazem isto para que as crianças queiram ter, para os pais gastarem dinheiro, para que eles enriqueçam e que, no final, o brinquedo pode nem ser tão legal. A propaganda nem sempre é verdadeira. Notamos que ele absorveu a explicação e compreendeu perfeitamente. Hoje ele tem sido bem mais criterioso (de acordo com a faixa etária dele) naquilo que ele mesmo vê.
Com certeza, precisamos instar em tempo e fora de tempo com os nossos filhos sempre.
Você lembra minha mãe. Ela, como você, aproveitava todas as oportunidades para me ensinar algo importante!
Obrigada, Milena! Isso sim é que é elogio! =)
Excelente! Vejo, a cada dia, filhos e filhas perdidos, sem saberem o que fazer diante de tantos apelos e alternativas, sem conseguirem escolher com sabedoria porque seus pais, em algum momento, se sentiram sem condições de explicar-lhes sobre a vida, sobre questões que enfrentariam. Pais amedrontados com a ideia de parecerem antiquados e que por isso preferiram calar-se. Hoje, tanto pais e filhos sofrem em acusações. Aqueles dizem que os filhos são rebeldes, estes que os pais não têm direitos sobre eles, pois não souberam ser pais quando deveriam tê-lo sido. E assim, o mundo continua carente de bons exemplos, ensinamentos, amor cheio de dedicação para ensinar e educar.