As notas abaixo foram escritas no facebook, mas penso que vale a pena compartilhá-las aqui com vocês:

I.
Hoje caminhei pela cidade, em meu passo de tartaruga manca, pagando
contas e comprando algumas coisas para o Natal. Sem pressa, conversei
com algumas pessoas desconhecidas. A maioria de vocês, mulheres, não faz
idéia do quanto é bom encher a boca para dizer, em resposta às
perguntas sobre o bebê e a gestação, que este é o meu quarto filho. Dá
uma alegria poder ver nos olhos das mulheres os preconceitos se
desmanchando e uma inesperada alegria nascendo. Quando elas vêem uma mulher
jovem, tranquila, falando com amor de sua família, de seu marido e de
seus filhos, inevitavelmente elas se vêem diante de um outro modo de ser
mulher, diferente do que nos vendem e nos forçam a grande mídia e,
lógico, as feministas. Não sei — e nem me interessa saber — que
espécie de fruto — se é que dará algum fruto — nascerá desse tipo de
informalidade, mas sei que me enche de alegria e gratidão a Deus poder
mostrar o milagre que somos, eu e os meus, no meio dessa geração que
abraça a esterilidade como se fosse a única alternativa existente e
aceitável. Àquelas de vocês que podem fazer o mesmo que eu, e com ainda
mais propriedade, o meu abraço sincero e a minha admiração!

II.Eu não nasci pró-vida nem pró-família. Aliás, venho de experiências que
desencorajariam qualquer um. No entanto, dando continuidade a uma série
de mudanças profundas em minha vida, comecei a conhecer famílias em que
as pessoas se amavam, que queriam ficar juntas apesar das diferenças,
que lutavam de verdade por isso; depois, comecei a conhecer famílias com
muitos filhos (mais de 3, no mínimo) e fui aprendendo sobre o modo como
elas compreendem seus papéis, como resistem às pressões
e críticas, como são felizes e prevalecem quando todos esperam o
contrário; por fim, fui percebendo como minha fé alicerça, incentiva e
luta por tudo isso, pelas famílias e pelos filhos, por muitos filhos,
por tantos quantos Deus quiser mandar. Enfim, não vim ao mundo com essa
mentalidade e nem a assumi instantaneamente, de uma hora para outra, mas
percorri um caminho no qual o exemplo de pessoas reais, de carne e
osso, bem como minha própria busca por uma vida de verdade, escolhida
por mim, não imposta desde fora e formatada pelas propagandas, revistas e
panfletos, fizeram toda a diferença. Não foi fácil e não tem sido
fácil, mas a convicção de que estou fazendo a coisa certa e o apoio
irrestrito do meu marido são tudo o que preciso para seguir em frente e
colher os frutos que tenho colhido: a fecundidade, a união e o amor no
lar. Se é isso o que você busca, saiba que apesar de difícil é possível,
sim. Comece pedindo a ajuda de Deus e confiando na Sua resposta. Não se
apresse, não fique ansiosa, apenas peça e confie. Aos poucos as coisas
começarão a acontecer.

III.

Mulheres queridas da minha timeline, se vocês querem entender por
quais motivos ser uma mulher normal — daquele tipo que viu-se ao longo
dos séculos e milênios, isto é, que deseja ter uma família com marido e
filhos e dela cuidar — é uma coisa cada vez mais difícil e
contracultural, leiam os seguintes livros, todos sugeridos em meu curso
“De volta ao lar”:
1. De volta ao lar, de Mary Pride (não, o nome do meu curso não é para imitar o livro; foi o resultado de uma enquete feita com as leitoras do blog).
Trata-se do relato surpreendente de uma ex-feminista que se converteu,
casou, teve filhos e os educou em casa. Para quem quiser conhecer as
raízes religiosas e malignas do feminismo é um prato cheio. Ah, e está
disponível na web, basta procurar.
2. O amor que dá vida, de Kimberly Hahn.
Obra de uma teóloga ex-protestante convertida ao catolicismo a respeito
das diferentes políticas de planejamento familiar e a posição oficial
da Igreja a respeito. O livro é repleto de testemunhos de outras
mulheres que entraram em contato com Kimberly relatando suas histórias
de abertura à vida.

3. O outro lado do feminismo, de Phyllis Schlafly.
Lançamento recente da editora Simonsen. Desfaz uma por uma das mentiras
que o feminismo nos conta há mais de 5 décadas. É mais ou menos o
equivalente ao “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”
só que contra o feminismo.

IV.
Um alerta precisa ser dado: optar por constituir uma família numerosa
não é o mesmo que optar por morar numa casa em lugar de morar num
prédio, ou por decidir cursar história em lugar de filosofia na
faculdade. E não o é pelo simples motivo de que a formação de uma
família envolve o nascimento de pessoas que mudarão a sua vida de uma
maneira irremediável e para sempre. Desejar ser a esposa de um só marido
e a mãe de muitos filhos não é algo pelo qual se decide porque “é lindo“,
“é de Deus”, “meu namorado sonha com isso”, etc. Estamos falando de
algo definitivo, afinal! E mais: de algo que, além de contar com toda a
oposição do mundo e de todo o mundo, ainda dá muito, muito trabalho.
“Mas, Camila, filhos não são bênçãos de Deus e não devemos estar abertos
a elas?” Sim, é claro. Mas você sabe por que Deus nos abençoa? Para nos
atrair para mais perto Dele. E você sabe como é que chegamos mais perto
de Deus? Pela cruz. E você sabe para que serve a cruz? Para matar. É,
para matar. Matar em nós tudo aquilo que nos afasta de Dele: nosso
egoísmo, nossa preguiça, nosso orgulho, nossa prepotência, nossa
covardia, nossa indiferença, nossa autocomiseração… Filhos são bênçãos
dadas por Deus para que nos tornemos mais semelhemantes a Ele. Em
outras palavras: não entre nisso, não assuma o propósito de ter uma
família numerosa por motivos secundários, por ter mudado de turma e ter
se convertido, porque o pessoal da paróquia acha legal, por achar bonito
— eu acho bonito o Rio de Janeiro, mas jamais moraria lá, por exemplo
–. Não. Só entre nesse barco se estiver convicta de que é isso o que
Deus quer para você, pois aí quaisquer oposições exteriores virarão
piada, virarão nada. Enfim, avalie o quão disposta você está a morrer
para si mesma para que o amor se multiplique, como o grão de trigo que
cai na terra e morre para assim poder germiná-la. Se você não estiver
disposta a morrer, não está disposta a amar. Não é bonito, não é fácil e
não é agradável, não é o que os filmes mostram, não é o que as pessoas
falam, mas é assim que as coisas de verdade, na realidade, são, basta
olhar para a cruz. Mas já antecipo um outro alerta: só quem experimenta a
cruz consegue experimentar a salvação; só quem perde encontra; só quem
morre ressuscita.

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  1. Muito bom Camila, desde que li o livro O Amor que dá a Vida, da Kimberly Hahn, vejo com outros olhos a abertura à vida no matrimônio, como uma bênção de Deus. é uma conversão constante. Ao mesmo tempo concordo com vc, ter muitos filhos mas larga-los aos cuidados de terceiros, usar métodos disciplinares violentos físico-psíquicos para ter "paz" no lar, criar filhos sem afeto, sem morrer para si mesmas e tomar a maternidade como vocação Divina, talvez então seja melhor não ter uma família numerosa. Acho que a falta de amor e atenção aos filhos é a pior herança que podemos deixar, pois no final afasta os filhos de Deus.

  2. Camila, tenho acompanhado seu blog desde o início, e gosto muito de seus textos. Que coincidência ler o comentário acima de uma grande amiga minha. Acho lindo ver famílias numerosas, não sei se terei uma por motivos que te conto em particular. Agora temos 2 crianças. Concordo com tudo que disse, só colocaria um complemento: Deus dá graças a quem se abre a família e compra essa ideia. Ele ajuda a nos esvaziarmos de nós e arrumarmos tempo e disposição. Às vezes achamos que não damos conta, eu na segunda já tive esse medo. Mas entre uma correria e outra as coisas se ajeitam. Vejo amigas com 5, 6, 8 filhos e todas sobrevivem. Um grande beijo e continuo te acompanhando.

  3. Camila, obrigada pelo lindo texto! Consigo ver muito mais sentido em tudo que estou vivendo, e tenho imenso desejo de abraçar cada vez mais essa causa (morrer para si mesma para que o amor se multiplique) e deixar que Deus nos conduza sem medo de abraçar a cruz! Muito obrigada!

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