Eu e Gustavo nunca comemoramos o Dia dos Namorados. Também não pretendemos comemorá-lo no futuro. Mas não por algum motivo ideológico anti-alguma-coisa-qualquer, nem por desleixo com nossa história, mas porque simplesmente nunca fomos namorados. É, eu sei, soa esquisito um negócio desses, mas é a verdade, e eu vou contá-la para vocês.

Quando nos conhecemos, cerca de 11 anos atrás, eu e Gustavo, assim que nos vimos… não simpatizamos nada um com o outro; nada mais distante de nossa história do que o famoso “amor à primeira vista”. Ele, rude e indiferente; eu, afetada e confusa. Ele, comprometido com uma moça lindíssima; eu, querendo mais do que tudo ir embora do país. Apesar disso, por conta de interesses comuns (igreja, Kierkegaard etc.), prosseguimos trocando emails, conversando. Não demorou para que nos tornássemos os melhores interlocutores um para o outro e, aos poucos, migramos dos emails para os telefonemas e para as SMS. Em seguida, ele terminou o namoro e meus planos para o exterior foram por água abaixo. Quando percebemos, em cerca de dois meses aproximadamente, a antipatia original havia sido de toda substituída por um verdadeiro apreço, por uma amizade crescente, e os assuntos começaram a derivar dos temas que inicialmente nos haviam aproximado e começamos a passear juntos: uma palestra aqui, um café ali, um cinema acolá.

Num desses passeios, enquanto tomávamos café em um shopping, conversa vai, conversa vem, sem que eu esperasse, Gustavo solta a temível pergunta: “Quer namorar comigo?” Claro que eu já tinha pensado no assunto, que gostava da idéia e que me sentia muito bem em sua presença, no entanto, eu tinha vindo de uma série de relacionamentos muito, muito, muito ruins, e não tenho vergonha de admitir que era uma garota muito machucada e cheia de sequelas psicológicas por conta disso. Assim sendo, não estava disposta a me arriscar mais uma vez em um relacionamento qualquer para mais uma vez fracassar. Minha saída, portanto, foi dificultar a vida do Gustavo, respondendo a ele o seguinte: “Não, não quero namorar. Eu caso, não namoro.” Imaginava que diante de tal resposta ele recuaria, daria uma desculpa qualquer, e eu me livraria de mais um aspirante a homem. Qual não foi a minha surpresa ao receber a seguinte tréplica: “Então casa comigo!” Meu chão sumiu. Eu jamais pensei que seria pedida em casamento de semelhante modo, numa espécie de queda-de-braços emocional! Alegria, medo, insegurança, tudo ao mesmo tempo… O que responder?!


Respondi a única coisa que poderia ter respondido, e não foi “sim”… nem “não”. Minha resposta foi a mais sincera, coerente e segura que eu poderia dar à pergunta que mudaria toda minha vida: “Vamos orar e pedir para que Deus nos mostre se é isso mesmo o que ele quer para nós”. Diferentemente da resposta anterior, em que meu propósito mal dissimulado era fugir, agora, diante de uma atitude surpreendente, corajosa e adulta, minha reação também mudara e eu queria fazer a coisa certa. Encontrava-me em um momento da minha vida em que tinha a convicção de que não possuía os critérios necessários para discernir quem seria um bom marido e quem não seria. Minhas experiências ofereciam-me uma abundância de provas de minha completa inaptidão para tal escolha e eu, portanto, não tinha mais como me fiar em mim mesma para empreender um relacionamento dessa seriedade. Eu reconhecia minha incapacidade e desejava a condução segura de Deus, alguém em quem eu poderia confiar que não me deixaria entrar em mais uma cilada.

Para minha alegria e como excelente sinal Gustavo topou. No entanto, surgia agora mais uma dificuldade: Como saber se era isso o que Deus queria? Eu precisava de um sinal, de algo inconfundível, claro como o sol. Mas o quê? Fui para casa com aquele turbilhão de sentimentos e assim que pude confessei a Deus minha incapacidade para decidir até sobre nisso. Foi então que, como resposta, ocorreu-me a passagem que narra o encontro de Rebeca pelo servo de Abraão: Ao reconhecê-la por meio de um sinal que havia pedido a Deus, o servo enche Rebeca de jóias. Sim, se Gustavo fosse mesmo o homem certo para mim, uma jóia seria o sinal e Deus haveria de incliná-lo a isso. Vale acrescentar uma nota importante: Ganhar uma jóia não era algo simples, pois Gustavo sequer recebia um salário, mas trabalhava em troca de custeio da faculdade.

Duas ou três semanas depois e sem pista alguma da minha parte Gustavo apareceu com um lindo anel de pérola. Ficamos noivos. A contar do dia em que nos conhecemos até o nosso casamento passaram-se pouco mais de oito meses. E de lá até cá já se vão quase onze anos.

Mas por que raios estou dizendo tudo isso, além do mais sob o título “menos dias dos namorados, por favor”? Não é com a pretensão de sugerir que não se namore. Menos ainda com a pretensão de servir de modelo. Nada disso. Cada casal tem a sua história, o seu tempo, os seus rumos. Minha intenção ao contar a nossa história, que eu acredito ser uma história feliz, um matrimônio bem sucedido, foi simplesmente incentivá-los a que tenham em mente e como alvo real o objetivo do relacionamento homem-mulher, isto é, o casamento. Já testemunhei o naufrágio de diversos relacionamentos que teriam tudo para prosseguir em felicidade porque os envolvidos negavam-se a ir para a etapa seguinte, a abraçar não só os direitos, mas também os deveres inerentes aos seus papéis, negavam-se, enfim, a crescer.

Sim, comemorem o dia dos namorados. Sim, conheçam-se. Sim, divirtam-se. Mas planejem, trabalhem, construam juntos, de fato, o futuro de vocês, como adultos que devem ser, não mais como adolescentes que vivem só no agora. Isso significa que o casamento é prova definitiva de maturidade? Não. Sempre há quem, apesar da celebração do rito, permaneça não mais do que um namorado em termos emocionais, vivendo apartado ainda que debaixo do mesmo teto, criando reservas para si em seu coração, em seu bolso, em suas coisas… A diferença entre isso e o que um casamento deve ser de fato é que, apesar de toda imaturidade, de toda a precariedade, de toda a falta de recursos, de toda a oposição e dificuldade que possa haver, quem se abre, caminha e vive o casamento está disposto a enfrentar todos os desafios, está disposto a superar-se, está disposto a mudar, a se entregar, a amar de verdade, até a morte e por amor a Deus. E isso não é coisa para meninos e meninas, mas para homens e mulheres.

Assim, comemorem o dia dos namorados, mas que sejam poucos, para que os aniversários de casamento sejam muitos.

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  1. Concordo, minha história de vida é bem similar… pedi minha esposa em casamento no primeiro encontro, mas faço uma observação (não uma correção, ok!? rs) comemore dias dos namorados com seu(a) namorada que é seu cônjuge, mas não somente um dia, mas todos os dias, para que assim como com Deus, nunca deixemos esfriar o primeiro amos!
    Um grande Abraço! Que Deus abençoe a você e toda a sua familia!

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