Hoje à noite, por ocasião do Natal, interromperemos a sequência da nossa leitura noturna do momento para lermos aquele que é o meu conto de Natal favorito. Aos que quiserem fazer o mesmo, deixo-o copiado abaixo. Tenho certeza absoluta de que não haverá razões para arrependimento. 🙂
Um feliz Natal a todos! Que o Menino Deus nos inspire para que em 2016 sejamos corajosos como Ele sempre foi, para que lutemos por aquilo que, mais que nosso direito, é nosso divino dever: educar nossos filhos.
O Gigante egoísta, de Oscar Wilde.
Todas as tardes, quando voltavam da escola, as crianças costumavam ir brincar no jardim do Gigante.Era um belo e vasto recanto, coberto de grama verde e macia. Aqui e ali, por sobre a relva, apontavam lindas flores, semelhando estrelas. Havia doze pessegueiros que, na primavera, se abriam em delicada floração de cor rosa e pérola; no outono, ficavam carregados de deliciosos frutos. Os pássaros, pousados nas árvores, cantavam tão docemente que as crianças costumavam interromper os seus brinquedos para escutá-los.
— Quão felizes somos aqui! — diziam entre si.
Um dia o Gigante regressou. Fora visitar um amigo, o papão da Cornualha, hospedando-se em casa deste durante sete anos. Decorrido esse tempo, dissera tudo quanto tinha a dizer, visto que sua conversa era pouca; e resolveu retornar ao seu próprio castelo. Ao chegar, viu as crianças brincando no jardim.
— Que estais fazendo aqui? — gritou-lhes, com voz bastante ríspida.
A criançada deitou a correr.
— Meu jardim é meu jardim. Todos sabem: não permito que ninguém, a não ser eu mesmo, brinque nele — resmungou consigo.
E ergueu uma alta muralha à volta do vergel, afixando a tabuleta de aviso:
OS INVASORES SERÃO PROCESSADOS
Era um Gigante deveras egoísta.
As pobres crianças não tinham, agora, onde brincar. Experimentaram fazê-lo na estrada, mas esta era poeirenta e cheia de pedras ásperas; não gostavam dela. Ao término das aulas, costumavam perambular à volta das altas muralhas, conversando sobre o lindo jardim que havia ali dentro.
— Como éramos felizes ali! — diziam-se.
A primavera chegou, então, e, por todo o campo, surgiram florzinhas e pássaros. Apenas no jardim do Gigante Egoísta era inverno ainda. Nele as aves não queriam cantar, pois não havia crianças, e as árvores não se lembraram de florir. Certa vez, uma linda flor pôs a cabeça para fora da grama; avistando, porém, a tabuleta, sentiu tanta pena dos infantes que se enfiou, novamente, de mansinho, no solo, e adormeceu. Os únicos seres satisfeitos eram a Neve e a Geada.
— A primavera esqueceu-se deste jardim — disseram. — Por conseguinte, ficaremos aqui durante o ano todo.
A primeira cobriu a relva com seu extenso manto branco, e a segunda tingiu as árvores de prata. Em seguida, convidaram o Vento do Norte para vir ter com elas, e este veio. Envolto em casaco de pele, zunia o dia inteiro pelo vergel, derribando as chaminés.
— É um lugar aprazível — falou-lhes o Vento. — Devemos convidar o Granizo para uma visita.
Este último também veio e, todos os dias, durante três horas, tamborilava no telhado do castelo, até que fendeu a maior parte das telhas; e passou, então, a correr à volta do jardim tão rápido quanto era capaz. Vestia-se de cinzento e seu hálito era que nem gelo.
— Não compreendo porque a primavera está demorando tanto para vir — murmurou consigo o Gigante, ao postar-se à janela, olhando lá fora o seu vergel branco e triste. — Espero que o tempo mude.
A primavera, porém, jamais veio, e tampouco o verão. O outono trouxe dourados pomos a todos os jardim, mas ao do Gigante, nem um sequer.
— É egoísta demais — justificou.
De modo que ali era sempre inverno; e o Vento do Norte, o Granizo, a Geada e a Neve dançavam por entre as árvores.
Certa manhã, o Gigante achava-se desperto, na cama, quando ouviu uma linda melodia. A música soou-lhe tão agradavelmente aos ouvidos que pensou fossem músicos reais passando. Na verdade, era apenas um Pintarroxozinho que cantava, fora de sua janela; fazia, porém, tanto tempo desde que ouvira um pássaro cantar, em seu jardim, que lhe pareceu ser a mais linda melodia do mundo. O Granizo parou, então, de saltitar sobre o telhado, e o Vento extinguiu o seu rugido; pela janela aberta, vinha-lhe um delicioso perfume.
— Creio que, por fim, a Primavera chegou — disse consigo, saltando da cama.
E olhou para fora… Mas o que via?!
Um quadro maravilhosíssimo! A criançada entrara furtivamente no jardim, através dum pequeno buraco na muralha, e estava sentada nos galhos das árvores. Em cada uma destas, havia uma criança. E as árvores estavam tão contentes por entreterem, de novo, a petizada, que se tinham coberto de flores e meneavam delicadamente os ramos por sobre as cabecinhas infantis. Os pássaros esvoaçavam dum lugar a outro, chilreando de prazer; as flores erguiam os olhos, por entre a grama verdejante, e riam. Uma linda cena; apenas num canto ainda era inverno, no trecho mais afastado do vergel; nele, havia um rapazinho em pé, tão pequeno que não lograva alcançar os galhos da árvore, e vagueava à volta desta, chorando amargamente. A pobre árvore ainda se encontrava coberta de neve e geada; o Vento Norte soprava, zunindo, sobre ela.
— Sobe, rapazinho! — instava a árvore, abaixando os galhos tanto quanto podia.
Mas o menino era muito pequeno.
O coração do Gigante comoveu-se àquela cena.
— Quão egoísta tenho sido! — disse. Compreendo, agora, porque a primavera não quis vir aqui. Colocarei aquele rapazinho no lato da árvore; depois, com uma pancada, derrubarei a muralha, e meu jardim será, para sempre, um parque infantil.
Lastimava, realmente, o que fizera.
Cuidadoso, desceu ao rés-do-chão, abriu a porta da frente bem devagar, e saiu para o jardim. Mas, avistando-o, as crianças atemorizaram-se de tal forma que todas elas deitaram a correr; e eli tornou a ser inverno, novamente. Só não correu o rapazinho, pois tinha os olhos inundados de lágrimas, a ponto de não notar a aproximação do Gigante. Este chegou, de mansinho, por trás do menino e, erguendo-o nas mãos, com brandura, colocou-o na árvore, que se enflorou no mesmo instante, e os pássaros vieram e cantaram, pousados em seus ramos. O rapazinho, estendendo os braços, lançou-os em torno do pescoço do Gigante, a quem beijou. As demais crianças, ao perceberem que o homenzarrão já não era ruim, voltaram correndo; com elas, voltou também a primavera.
— Este jardim agora é vosso, meninos — disse-lhes o dono do castelo.
E tomando dum enorme machado, pôs abaixo a muralha.
Ao ir à feira das doze horas, o povo deparou com o Gigante a brincar com as crianças no mais lindo vergel jamais visto. Estas brincaram o dia todo e, ao cair da noite, foram despedir-se de seu benfeitor, que lhes perguntou:
— Onde está o vosso companheirozinho, o que pus na árvore?
O Gigante amava-o mais que aos outros, pois que dele recebera um beijo.
— Não sabemos — responderam-lhe. — Ele sumiu-se.
— Deveis dizer-lhe que não deixe de vir amanhã.
As crianças, porém, retrucaram-lhe que desconheciam onde morava o referido rapazinho e que nunca o tinham visto antes. O benfeitor entristeceu-se muitíssimo.
Todas as tardes, ao terminar das aulas, os petizes iam brincar com o Gigante; mas aquele a quem este amava, jamais foi visto outra vez. O Gigante era bastante gentil para com todas as crianças; contudo, sentia saudades de seu primeiro amiguinho e mencionava-o muitas vezes.
— Quanto eu gostaria de vê-lo! — costumava dizer.
Passaram-se os anos. O Gigante ficou bem idoso e alquebrado. Já não lhe era possível brincar por ali, de modo que permanecia sentado numa enorme cadeira de braços, vendo os folguedos infantis e admirando o seu jardim.
— Tenho um mundo de flores lindas — dizia consigo –, mas as crianças são as mais lindas flores de todas.
Numa manhã de inverno, ao vestir-se, olhou para fora da janela. A esse tempo, não mais detestava o inverno, pois sabia que era apenas a primavera adormecida, e que as flores respousavam.
Subitamente, esfregou os olhos, admirado, firmando a vista. Era, sem dúvida, um esplêndido cenário! No canto mais afastado do jardim estava uma árvore toda coberta de lindas flores brancas; seus galhos eram de ouro e deles pendiam pomos prateados; e, debaixo da árvore, o rapazinho que ele tanto amava!
Transbordante de alegria, correu para o rés-do-chão e dali para o jardim. Correu mais depressa ainda por sobre a grama, e aproximou-se do menino. Ao chegar-lhe bem perto, o rosto do Gigante tornou-se rubro de cólera.
— Quem ousou magoar-te? — perguntou-lhe, pois nas palmas das mãos do menino havia sinais de dois pregos cravados, sinais que se repetiam em seus pezinhos.
Insistiu:
— Quem ousou magoar-te? Dize, para que eu possa pegar da minha espada e matá-lo.
— Não! — respondeu-lhe a criança. — São estigmas do Amor.
— Mas, quem és? — tornou a indagar o Gigante.
Foi tomado, então, dum estranho temor, caindo de joelhos diante da criancinha, que lhe disse, sorrindo:
— Deixaste-me brincar uma vez em teu jardim; pois, hoje, irás comigo ao meu, que é o Paraíso.
Ao voltarem, correndo, naquela tarde, as crianças encontraram o Gigante morto, sob a árvore, e todo coberto de flores brancas.
Lindo conto!
Maravilhoso e inspirador como sempre, Camila!
FELIZ NATAL! Que Jesus continue os inspirando para abençoarem muitas vidas…
Que conto belíssimo!! Muito obrigada por compartilhar conosco Camila!
Não conhecia este conto. Lindo mesmo! Também agradeço por compartilhar.
Fiquem com Deus.
Gostei! Fez sucesso aqui em casa na vespera de natal 🙂