A primeira ruptura contra a conformação, obviamente, foi sobre a necessidade da escola e sobre a associação entre escola e conhecimento. As rupturas seguintes voltaram-se sobre os hábitos escolarizados na gestão da rotina familiar, ou seja, sobre o quanto não precisamos esperar a campainha ensurdecedora para fazermos ‘x’, ‘y’ ou ‘z’; sobre o quanto as avaliações formais perdem o sentido quando somos nós os que cuidamos da educação de nossos filhos; sobre o quanto o avançar e o permanecer nos conteúdos não é imposto desde um cronograma aleatório estipulado por um terceiro que nem conhece nossos filhos, mas depende somente de nossa sensibilidade para perceber e acompanhar o ritmo de nossas crianças; entre muitas outras coisas.
Mas a ruptura da vez não diz respeito diretamente ao homeschooling mas, se assim posso dizer, ao pós-homeschooling, isto é, ao mundo do trabalho e tudo o que ele envolve, desde o pretenso término dos estudos em casa.
Por ocasião do ENEM, vi muitos pais homeschoolers angustiados com a hipótese de ter que, contrariando tudo o que fora trabalhado e ensinado em casa ao longo dos anos, precisar ensinar os filhos a “esquerdar”, a dar a resposta “certa” na qual não se acredita e, sobretudo, sabe-se ser a errada. Com isso surgiu também a preocupação pela situação calamitosa das nossas universidades, sobre a formação de baixíssimo nível e a necessidade (necessidade?) de um diploma como única garantia de uma vida melhor.
Mas façamos um esforço: é o diploma realmente indispensável? Há casos em que ele o é: se a criança tiver vocação para práticas como a medicina, o direito, a arquitetura… Faculdades que, apesar de tudo, transmitem ou devem transmitir conhecimentos técnicos específicos sem os quais o exercício da profissão torna-se impossível. Nestes casos, é preciso pesquisar as instituições menos piores (já que não temos mais boas instituições) e preparar nossos filhos para toda a sorte de conflitos que encontrarão por lá. Isso quando for impossível enviá-los para estudar fora do país. Todavia, há casos em que a faculdade NÃO é essencial. Ninguém precisa de faculdade para abrir um negócio, seja uma livraria, uma editora, um bar, um bazar, uma gráfica, uma floricultura, uma padaria. Ninguém precisa de faculdade para criar um site, um blog, um canal no youtube, para trabalhar como professor de inglês, de espanhol, de francês, como ghost-writer, como fotógrafo, até mesmo como político… Enfim, há um mundo de possibilidades que independem totalmente de um diploma. Basta ser bom de verdade naquilo que se faz e, para isso, precisa-se de experiência, coisa que se obtém por meio de uma boa rede de contatos, de pessoas dispostas a transmitir o que sabem aos nossos filhos.
O problema, e voltamos ao ponto do início do texto, é o condicionamento. Estamos condicionados a pensar que a segurança está no caminho que todos percorrem, ou seja, na escola, na faculdade e no concurso público. Estamos acostumados a ir com a boiada. O problema é que quando todos vão com a boiada não há boas oportunidades para todos, mas somente para alguns, além de um inevitável enterrar de talentos jamais descobertos ou postos à prova, o que resulta, por sua vez e inevitavelmente, em frustração. Por outro lado, investir em um caminho próprio, alternativo, embora seja menos convencional, oferece chances muito maiores de superação, realização pessoal e sucesso. Afinal, quantos de nós realmente trabalhamos, ou desejaríamos trabalhar, com aquilo no que fomos chancelados pelo MEC? Eu não. Nem o meu marido.
Empurrar nossas crianças, então jovens, para a faculdade mesmo quando elas não o desejam é contrariar a liberdade que vivemos graças à educação domiciliar, pois uma coisa é vocação, outra bem diferente é medo. E já que perdemos o medo do MEC, percamos também o medo de empreender, de dar aos nossos filhos a chance de serem ousados do jeito certo, no tempo certo e para a coisa certa. Energia e capacidade não lhes faltarão.
Gosto muito de ler que vocês incentivam os seus filhos a serem empreendedores e acreditam na capacidade deles. Acho isso incrível!
Lembro que no ensino fundamental aonde estudei, quase todos os professores desanimavam os alunos. Diziam que tudo era muito difícil e deixavam as crianças com a ilusão de que jamais conseguiriam algo na vida. A promessa era que, quando fosse cursar o ensino médio, tudo melhoraria. Depois, quando formasse no ensino técnico, depois a faculdade, depois uma pós, uma especialização, depois mestrado, depois doutorado, Phd e diabo a quatro. Ora! Isso é fazer a criançada de boba! Um dia serei mãe e me inspiro em você, Camila. Obrigada.
Texto muito legal Camila! Eu mesmo me faço a seguinte pergunta e vou compartilhá-la contigo, em que empreender num país que é muito mais rentável e fácil investir num tesouro direto ou em ações do que numa empresa que gera valor e emprego?
Com tantas leis e impostos que dificultam abrir o próprio negócio e com dificuldade obter 20% de rendimento (sonho de muito patrão aí rsrs) e com investimento no mercado financeiro é possível obter este valor ou algo perto disso com pouco esforço.
Eu sempre sonhei em ter/ser uma pequena empresa, mas diante deste mercado é muito difícil acreditar que este sonho se torne realidade.
Muito pertinente. É toda uma outra cultura e outra tábua de valores que tem de ser buscada. Abaixo o MEC e viva a liberdade!
Camila, vivenciamos isto, de certa forma, de 2007. Foi em 2007 que decidimos investir em nosso próprio negócio. Foi também neste mesmo ano que meu marido saiu de um "emprego estável" de mais de 14 anos como professor concursado em uma universidade federal. Na época todos nos olhavam com cara de espanto! Nossa empresa funciona em Home Office e o ganho familiar foi fantástico: temos mais tempo para curtir nossos filhos, vê-los crescer, nossa família tornou-se mais unida e feliz.
Anos mais tarde, li um artigo seu falando sobre Homeschooling. Um assunto até então desconhecido para mim. E, a medida que fui pesquisando sobre o assunto, percebi que era a solução que nós procurávamos. O problema das escolas e o péssimo resultado já era algo que vivenciávamos, mas o caminho foi apontado com a leitura do seu artigo.
A transição da escola para o homeschooling para nós, foi um processo natural. Pois no quesito organização e planejamento, já trazíamos uma bagagem desde 2007.
E sim, estamos preparando uma nova geração que certamente estará mais preparada intelectualmente e emocionalmente do que as que estão passando pelo processo destrutivo do MEC. É com tristeza que digo isso, porque já houve uma época em que a educação tradicional realmente estava centrada no aprendizado do aluno. Hoje, o sistema educacional, está mais preocupados em criar militantes acéfalos, que seguem a manada, sem ter a capacidade intelectual de entender o que realmente está acontecendo a seu redor.
Muita coisa eu vivi e ainda presencio sobre esta questão. Talvez seja tarde demais, pois, tudo que esses assassinos de mentes fizeram já esta entranhado no coração e na mente deste povo.
Somente vejo, rebeldia dos filhos para com seus pais, o que era feio se tornou a métrica de todos eles. "O que era rabo se tornou cabeça".
Quem é o pai da mentira, senão o próprio cão, o adversário, nosso verdadeiro inimigo real.
O ESTADO levou o pai, a mãe e agora seus filhos, todos participamos de um circulo vicioso, deste circulo de promessas de um futuro melhor.
Estudo, graduação, pós graduação, especialização, doutorado. Tudo ilusão.
Como vc bem evidenciou, a universidade não é para todos e nem pode sê-lo.
Pais, tenham em mente tudo o que o SENHOR JESUS CRISTO nos alertou.
Não vivam da promessa dos homens, mas sim, de DEUS.
Não esperem, lutem por vós e pelo coração e mente de sua prole.
Que DEUS vos abençõem