Os terceiro e quarto capítulos, intitulados respectivamente “A Unesco, a educação e o controle psicológico” e “A redefinição do papel da escola e o ensino multidimensional”, fizeram-me compreender de um modo mais profundo o versículo que afirma que “o mundo jaz no maligno”. Neles, retrocedendo ainda mais do que eu havia visto nos dois capítulos iniciais do livro, o autor nos mostra como já na década de 40(!) haviam subsídios teóricos disponíveis àqueles que buscam o controle e a transformação das mentalidades, valores e atitudes dos indivíduos.
Em “A Unesco, a educação e o controle psicológico” encontra-se exposta, ao que me parece, a raíz do discurso politicamente correto. Lá, citando diretamente o documento La modification des attitudes, Pascal Bernardin mostra como, sob o pretexto do fim da discriminação e do preconceito de todos os tipos, tornam-se autorizadas as técnicas psicológicas de modificação das atitudes. Aparentemente voltada para as atitudes grupais (de grupos de alunos, de religiosos, étnicos, etc), as técnicas, no entanto, podem ser aplicadas em qualquer contexto e sob quaisquer finalidades. Tanto é assim que, citando novamente o próprio documento, vê-se que as modificações têm pretensões internacionais. Ou seja, não está em questão este ou aquele grupo específico, e pouco importa onde as pessoas vivem ou no que elas acreditam, se parecer discriminatório ou preconceituoso em alguma medida, de alguma maneira, importa, sim, transformá-las à força, sem que elas sequer percebam o que está em jogo. Lembra alguma coisa?
Como instrumento para realização de tais modificações são citadas as tão amadas… dinâmicas de grupo e dramatizações! Sim, tudo isso que parece tão bacana e está tão na moda hoje em dia, não somente nas escolas, mas nas empresas, clubes e até mesmo entre grupos cristãos, assenta-se sobre a realização da técnica da dissonância cognitiva, conforme a expliquei no post anterior. O segredo aqui (e a diferença fundamental com relação ao teatro) está nos seguintes elementos: na improvisação, na ausência de censuras ou críticas, na total aceitação do que vier. Quando uma tal atmosfera é criada, mesmo que a pessoa discorde em alguma medida do que está ocorrendo, acabará cedendo e participando, utilizando depois, como meio de racionalização do comportamento anteriormente reprovável, a aparente liberdade e espontaneidade com que fez parte da dinâmica ou da dramatização. Em outras palavras, “eu quis participar”, “eu quis fazer parte do grupo”, “não vi mal algum”, etc. Vocês lembram do caso das meninas que vestiram burcas num “teatrinho” de uma escola dos EUA, depois de aprenderem que os terroristas são “guerreiros da liberdade”? Obviamente a escola-palco é constituída por uma ampla maioria de fiéis cristãos.
Agora, vejam vocês como a “bonita” e “justa” luta da Unesco contra todas as formas de discriminação e preconceito (seja lá o que eles entendam por isso), além de pretender realizar-se sem o conhecimento e o consentimento dos indivíduos, não deixa a questão em aberto para que as pessoas decidam o que é melhor para si, mas tem um projeto bem definido daquilo que, segundo eles, é o melhor para todos, ainda que todos porventura se recusassem (caso soubessem do que está em jogo):

a) do nacionalismo ao internacionalismo, no plano político;

b) do tradicionalismo ao materialismo, no plano da filosofia social geral;
c) do senso comum à ciência, como fontes de provas aceitáveis;
d) do castigo à recuperação, na teoria dos regimes penitenciários;
e) da violência e da ação direta à legalidade, como meios políticos;
f) da severidade à tolerância, em matéria de educação infantil;
g) do sistema patriarcal à igualdade democrática, em matéria de relações conjugais;
h) da passividade ao ímpeto criador, no que diz respeito aos divertimentos e ao lazer.
Sejamos sinceros: quem aí não teria exemplos de como essa passagem forçada (pois já a estamos vivendo) tem dado MUITO errado? Para nos limitarmos ao conteúdo do blog, digam-me: vocês conhecem quantas famílias ditas tolerantes que acabaram comendo o pão que o diabo amassou ao permitir que seus filhos fizessem tudo o que quisessem, em lugar de limitá-los e corrigi-los? Um caso que ilustra isso muitíssimo bem são os últimos eventos ocorridos na Suécia, um país no qual os pais não podem dar uma palmada sequer em seus filhos.
Quanto ao quarto capítulo, esqueçam de vez essa história de transmissão de conhecimentos, ainda que tal expressão seja utilizada. O ensino pretendido pela Unesco é fundamentalmente “multidimensional”, isto é,
“ético, cultural, social, comportamental, e até mesmo político e espiritual”.
Ou seja, a escola, e não mais a família, torna-se o centro da vida da criança, seu lugar de formação. Assim sendo, nada mais natural que, em lugar de aprender de fato uma língua estrangeira, por exemplo, as crianças tenham aula sobre “sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis” (que é o nome bonito para literatura pornodidática e/ou para um pênis de borracha revestido com camisinha passando de mão em mão), ou, quem sabe, uma aula sobre ritos africanos, sobre funk como manifestação cultural tipicamente brasileira, etc.
Claro, para que tudo isso aconteça, o papel do professor também precisa ser redefinido, passando da postura daquele que sabe e transmite algum conhecimento, para a adoção da postura de um mero “facilitador”, na qual ele se torna apenas mais um que está aprendendo com os outros e compartilhando entre o grupo. Ou seja, ao mesmo tempo em que enfraquece o motivo mesmo pelo qual sua profissão existe, lesando o desenvolvimento cognitivo real das crianças, o professor fortalece e dissemina sua influência sobre os alunos, invadindo, muitas vezes, até mesmo o âmbito doméstico, exercendo influência junto aos pais e responsáveis, anulando, assim, qualquer resistência que ainda possa haver. O professor torna-se uma espécie de amigo mais velho onipresente, dotado de uma autoridade tanto maior quanto mais dissimulada.

O sistema educacional assim configurado, em lugar de preparar os alunos para o ingresso e participação num universo cognitivo construído ao longo dos séculos pelos mais diferentes e ilustres membros da humanidade, isola-os, alija-os historicamente, lança alguns poucos conteúdos de maneira descontínua e maçante, matando assim qualquer interesse e aspiração que pudesse existir na direção de um conhecimento efetivamente superior, reduzindo tais questões a prazer ou dinheiro: “isso é divertido?” ou “quanto ganho fazendo isso?”.
Vejam os últimos trechos que selecionei, com os quais encerro o post (e vejam também se não lhes soa muitíssimo parecido com o discurso de um “renomado” pedagogo brasileiro):
“[…] o essencial é a comunidade de base que define livremente e localmente suas normas e seus regulamentos. O essencial aqui não são mais as disciplinas universitárias e sua tradução para os diferentes níveis de ensino, mas o próprio aprendiz e as condições de uma aprendizado hic et nunc a partir de sua experiência própria. […] 
De um ponto de vista estritamente pedagógico, levar em conta as preocupações locais e a realidade dos aprendizes significa privilegiar o estudo do meio e desenvolver projetos interdisciplinares. As disciplinas universitárias perdem assim sua situação dominante e tornam-se auxiliares instrumentais de uma abordagem interdisciplinar, ou antes transdisciplinar, da realidade estudada.

Mas, ao mesmo tempo, os critérios de avaliação se obscurecem na medida em que esse tipo de estudo temático privilegia o trabalho de equipe e objetivos afetivos dificilmente avaliáveis. […] A seleção tende a desaparecer em proveito de uma ensino bastante individualizado […] em grupos de idades heterogêneas […], o essencial sendo aqui a formação social e a ausência de segregação. Além disso, as normas se acham necessariamente relativizadas, a fim de considerar a natureza da população escolar acolhida em sua totalidade.”
Até o próximo post.

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