A difícil conciliação

Todos os dias em que a Chloe vai à escola preciso fazer um vigoroso trabalho de conciliação no início da tarde, em casa: ela não quer fazer os temas e normalmente conta-me uma porção de pequenos episósios que relatam dificuldades, desentendimentos, displicência e por aí vai…

Como relatei algumas vezes em meu perfil no facebook, aquilo que está sendo ensinado este ano em sala de aula é uma grande reprise da primeira série. Hoje, por exemplo, as tarefas de casa eram exercícios de português para preencher as linhas com as sílabas ba, be, bi, bo, bu, da, de di, do, du e fa, fe, fi, fo, fu. A formação das sílabas foi um conteúdo que estudamos em casa no segundo semestre do ano passado. Desde então Chloe domina essa etapa e também a seguinte, de junção das sílabas e formação das palavras. Ou seja, é cansativo e entediante para ela a repetição desnecessária daquilo que ela já sabe, como imagino que seja para qualquer pessoa normal que goste de crescer e ser desafiada.

Minha estratégia, então, tem sido condicionar os nossos estudos complementares à realização dos temas da escola. Assim, para que possamos estudar poesias, fazer continhas de centenas ou, agora, também exercícios de inglês (que são os assuntos que mais a empolgam no momento), primeiro precisamos fazer os temas da escola. É claro que ela reluta e reclama de ter que fazê-los, e eu, de minha parte, não discordo dela, não desmereço o que ela sente ou desconsidero o que ela sabe, mas explico que, apesar de ser chato, de ela já saber aquilo tudo, ela precisa fazer, e fazer bonito, caprichado, pois é aluna naquela escola, não só em casa, e precisa fazer a parte dela, e fazê-la bem-feito.
É difícil e perigoso ensinar resignação para uma criança justamente quando a impedem de avançar nos estudos, e, além disso, sem deixar que no seu coração brote o ressentimento, mas, por outro lado, Chloe tem colhido pequenas recompensas pelo seu excelente desempenho: ela não precisa se angustiar com as faltas em dias de chuva ou de muito frio, pois já sabe o conteúdo, e as próprias professoras sabem que ela sabe e não a perturbam pelas ausências; ela se alegra por ter um caderno repleto de adesivos e elogios da “profe”; ela já teve autorização da professora para ajudar uma outra colega que estava com dificuldades para fazer os exercícios solicitados e até ganhou um cartão de agradecimento da menina; ela percebe a diferença existente entre ela e a maioria dos coleguinhas, e valoriza muito o que temos em casa, pedindo-me exercícios até para os finais de semana, divertindo-se ao fazê-los e, inclusive, inventando-os(!) quando eu eventualmente não tenho tempo ou não faço atividades na matéria com a qual ela quer se ocupar.
Não sei por quanto tempo ainda conseguirei realizar “com sucesso” (melhor seria sem maiores danos) essa conciliação. Minha prioridade é a minha família, não os ritos governamentais, especialmente quando estes não dão conta sequer do mínimo. 
Que Deus ajude a todos nós, a minha e a sua família, queridos leitores que passam pela mesma triste situação.