Gostaria de publicar aqui uma pequena resenha sobre o novo livro do professor Olavo de Carvalho, “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” . Já iniciei a redação do texto, porém, as contrações começaram e nos próximos minutos sairemos rumo ao hospital. Assim, deixo-lhes aqui uma indicação de livro que redigi meses atrás, lá no meu antigo blog. Trata-se de um livro para meninas a partir dos 5 anos. Um primor.
Aproveito e peço-lhes as suas orações, para que tudo corra bem conosco.
O post de hoje é novamente uma indicação de livro para ler com as crianças. Refiro-me ao “As meninas exemplares”, da Condessa de Ségur. Há anos conosco, jamais tinha dado atenção ao livrinho até o dia em que havíamos concluído mais um volume da série Os Guardiões de Ga’Hoole e não havíamos adquirido o volume seguinte. Sem nada mais extenso que pudesse ler, algo que nos acompanhasse durante alguns dias, corri os olhos sobre o texto e, não encontrando nele nenhum problema mais evidente, pus-me a lê-lo para a Chloe e para o Benjamin. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir nele um tesouro.A Condessa de Ségur, como mais tarde pude descobrir, nasceu em 1799, filha de uma rica família de Moscou. Mais tarde, no exílio que os levou à França e pós a morte do pai, converteu-se ao cristianismo, casou-se com o Conde de Ségur e com ele teve oito filhos, aos quais dedicou-se integralmente. Seus livros são resultado deste cuidado e, ao que indicam os trechos de suas demais obras, possuem franca inspiração e coerência com a fé cristã, além de retratarem com propriedade e riqueza a vida, os comportamentos e as fantasias das crianças de então.
Ao que pude perceber, os títulos da Condessa saíram de moda e avançam rumo ao mergulho no esquecimento, pois não há edições mais recentes em nossas editoras nacionais. É uma dupla pena: pena para os editores – especialmente os cristãos -, que deixam de enobrecer o seu católogo e influenciar de modo imensamente positivo as novas gerações; pena para nós, leitores, que vemos aumentar a cada dia a quantidade de deformidades morais publicadas e vendendo como água, escasseando sempre mais a boa literatura. Sorte nossa que existem bons sebos por aí.
O exemplar que tenho comigo de “As meninas exemplares” é uma edição publicada pela Ediouro em 1984 e possui ilustrações, notas de rodapé com listas das palavras provavelmente desconhecidas e seu respectivo significado e, além disso, um pequeno questionário ao final do livro organizado de acordo com os capítulos, com a finalidade de ajudar os pais e as crianças a perceberam o quanto a história está sendo assimilada. É importante saber que “As meninas exemplares” é o segundo livro de uma trilogia, mas que pode ser lido separadamente sem prejuízo algum para sua compreensão.
Trata-se, sem dúvida, de um texto equilibrado, que não caricaturiza a criança dando-lhe ares tolos e infantilizadores, mas também não lhe rouba a ingenuidade e a franqueza. Repleto de cenas de amizade, arrependimento, bondade, perdão e generosidade, “As meninas exemplares” nos “puxa para cima”, apresentando-nos um padrão moral não muito distante no tempo e não muito difícil aos corações humildes. Deixo-lhes aqui algumas pequenas provas.
Este primeiro trecho marcou-me bastante, pois retrata a empatia e a generosidade na relação das duas mães viúvas:
“- E por que, então, vai nos deixar? – perguntou a Sra. de Fleurville.
– Porque preciso partir. Vou para a casa de minha irmã. Depois da morte de meu marido, ocorrida já há bastante tempo, fiquei sozinha, tendo apenas por companhia a minha pequena Margarida. Vivo num grande isolamento. E minha irmã convidou-me para ir morar com ela.
– Nesse caso, por que não fica aqui conosco? – insistiu a Sra. de Fleurville. – Margarida deu-se tão bem com Camila e Madalena, que certamente gostaria de permanecer na companhia delas. A senhora não acha?
(…)
– Quero que saiba, Sra. de Rosbourg, que não lhe faço este convite por mera gentileza – continuou a Sra. de Fleurville. – Como lhe disse, perdi também o meu marido. Ele morreu em combate na África. Creio que a senhora podia ficar morando comigo, porque assim faríamos companhia uma à outra. Além disso, como a senhora mesma reconhece, Margarida se sentiria melhor aqui, vivendo com Madalena e Camila.
(…)
– Pois bem – disse a Sra. de Fleurville. – Como estamos numa situação mais ou menos semelhante, volto a insistir no convite que lhe fiz para ficar morando comigo. A casa é muito grande, dá à vontade para nós e as crianças.”
Já o trecho seguinte lembrou-me Sto. Agostinho:“Assim que se viu a sós, Sofia colheu, mais que depressa, duas peras, não sem ter o cuidado de escolher as maiores. E escondeu-as no vestido.
Em pouco juntou-se às companheiras.
– Que é que há com você, Sofia? – perguntou Camila.
– Que é que há comigo? Ora, não há nada. Por quê?
– Sei lá? Estou achando você muito corada.
– Corada?
– Sim. Ela não está corada, Madalena? – insistiu Camila.
A outra olhou por um momento para Sofia:
– É… Engraçado! Ela está mesmo com o rosto muito vermelho.
– Não amolem! – exclamou Sofia. – Eu estou com a mesma cor de sempre. Acho melhor vocês irem andando.
(…)
Aí, então, num impulso de sincero arrependimento, Sofia tirou as peras de dentro do vestido e, num desabafo, contou tudo.
– Eu me sinto envergonhada do que fiz. Andei muito mal. Me perdoe, Camila, por ter deixado que desconfiassem de você. Mereço ser castigada – disse.”
Por fim, um longo, mas lindo trecho sobre caridade:“Saíram cedo. As crianças corriam alegremente pela estrada. De repente, viram debaixo de uma árvore, sentada no chão, uma menina chorando. Devia ter mais ou menos a idade delas e estava muito pobremente vestida.
– O que está fazendo aqui? – perguntou Camila.
– Nada… – respondeu soluçando a menina.
– Espere um pouco, Camila, que vou chamar mamãe – disse Madalena.
E voltou correndo ao encontro da Sra. de Fleurville, para dar-lhe notícia da menina que haviam encontrado. Apressando o passo, a Sra. de Fleurville, sempre seguida da Sra. de Rosbourg, em pouco chegava ao lugar onde se achava a desconhecida.
Perguntou-lhe qual era o seu nome. E ela, enxugando as lágrimas, respondeu:
– Lúcia.
O aspecto de abandono e pobreza da menina fazia um triste contraste com as quatro crianças que a cercavam.
(…)
– E por que está chorando? Diga. Responda. Pode dizer, minha filha.
– Eu… É porque… porque estou com fome… Ainda não comi hoje, madame.
– Meu Deus! – exclamou a Sra. de Rosbourg.
Imediatamente Camila pegou o cesto em que levavam o lanche do passeio e colocou-o diante de Lúcia:
– Pode comer à vontade. O lanche dá para todas nós.
(…)
– Este eu vou levar para minha mãe – respondeu Lúcia. – Ela também não comeu hoje.
– Tive uma ideia! – exclamou subitamente Sofia. – Que tal a gente ir até a casa de Lúcia com ela? Assim a mãe dela também pode lanchar com a gente, não é mesmo?
E a verdade é que, ao contrário do que acontecia habitualmente, Sofia viu, pela primeira vez, uma ideia sua ser aprovada sem reservas pelos adultos. Tanto a Sra. de Fleuriville quanto a Sra. de Rosbourg concordaram de pronto, e todo o grupo se pôs a caminho da casa de Lúcia.”
O sucesso do livrinho foi tamanho que Chloe pediu-me que recomeçasse a leitura! E já avançamos quase até o meio da obra novamente!
Parabéns pela chegada do bebê, que Deus os abençoe.