Dois livros sobre vida no campo

Há tempos quero recomendar dois livrinhos incríveis e complementares, que tanto meninos quanto meninas irão gostar, desde os cinco, seis anos de idade, até os dez, onze.

Um deles já recomendei em outras ocasiões, mas sem maiores explicações: trata-se do clássico norte-americano O jovem fazendeiro, de Laura Ingalls Wilder. Neste livreto, ainda mais divertido que o primeiro da série – Uma casa na floresta – Laura narra a infância do marido, Almanzo Wilder, numa época já um pouco afastada da nossa. A história desenvolve-se ao longo de um ano na vida de Almanzo, que contava, então, nove anos de idade. Escola, brincadeiras, roupas, comidas, animais, fé e trabalho, muito trabalho, retratam o dia a dia do menino.

Àquelas famílias que precisam enriquecer o imaginário infantil com bons exemplos, Almanzo Wilder e seus irmãos Royal, Eliza Jane e Alice são um prato cheio. Confiram este trecho:


O pai estava um pouco adiante, na rua, conversando com o Sr. Paddock, o fabricante de carroças. Almanzo caminhou lentamente em direção a eles. Estava amedrontado, mas tinha de ir. Quanto mais se aproximava do pai, mais medo tinha de pedir um níquel. Nunca havia pensado em semelhante coisa. Estava certo que o pai não lhe daria.
Esperou até que o pai parasse de falar e olhasse para ele.
– O que houve, filho? – perguntou o pai.
Almanzo estava assustado.
– Pai… – disse ele.
– Sim, meu filho?
– Pai – disse Almanzo -, o senhor quer me dar… quer me dar… um níquel?
Ficou ali enquanto o pai e o Sr. Paddock olhavam para ele e teve vontade de desaparecer. Finalmente o pai perguntou:
– Para quê?
Almanzo olhou para seus mocassins e murmurou:
– Frank tinha um níquel. Comprou limonada vermelha.
– Bem – disse o pai lentamente -, se Frank o convidou, está certo que você também o convide.
O pai enfiou a mão no bolso. Então parou e perguntou:
– Frank lhe ofereceu limonada?
Almanzo queria tanto ganhar o níquel que fez um aceno afirmativo. Depois estremeceu e disse:
– Não, pai.
O pai olhou-o por um longo tempo. Depois tirou a carteira, abriu-a e, lentamente, tirou um meio dólar de prata, grande e redondo. Perguntou:
– Almanzo, sabe o que é isto?
– Meio dólar – respondeu Almanzo.
– Sim. Mas você sabe o que é meio dólar?
Almanzo só sabia que era meio dólar.
– É trabalho, filho – disse o pai. – É isso que o dinheiro é; trabalho duro.
[…]
O pai perguntou:
– Sabe cultivar batatas, Almanzo?
– Sim – respondeu Almanzo.
– Diga: você tem uma semente de batata na primavera, o que faz com ela?
– Corto-a – respondeu Almanzo.
– Continue, filho.
– Primeiro gradamos… depois adubamos o campo e em seguida o aramos. Depois gradamos e marcamos o terreno. Plantamos as batatas, aramos e capinamos. Aramos e capinamos duas vezes.
– Está certo, filho. E depois?
– Depois as colhemos e guardamos na adega.
– Sim. Depois as selecionamos durante todo o inverno; jogamos fora toda as pequenas e as podres. Quando chega a primavera, carregamos a carroça de batatas e as levamos a Malone, onde as vendemos. E, se conseguimos um bom preço, filho, quanto recebemos por todo esse trabalho? Quanto recebemos por meio bushel de batatas?
– Meio dólar – disse Almanzo.
– Sim – confirmou o pai. – É isso que está neste meio dólar, Almanzo. O trabalho que foi necessário para obter meio bushel de batatas está aqui nele.
[…]
– É seu – disse o pai. – Pode comprar um leitãozinho com ele, se quiser. Pode criá-lo e ele lhe dará uma ninhada de porquinhos que valerão quatro, cinco dólares por cabeça. Ou você pode trocar esse meio dólar por limonada e bebê-la. Faça o que quiser, o dinheiro é seu.
[…]
Os meninos só acreditaram depois que ele mostrou a moeda. Então se agruparam à sua volta, esperando que ele a gastasse. Mostrou-a a todos, depois tornou a guardá-la no bolso.
– Vou dar uma volta por aí – disse ele – e comprar um bom leitãozinho.


O segundo livro que desejo recomendar é inédito, isto é, jamais falei dele em lugar algum. Trata-se de uma gratíssima surpresa presenteada já há algum tempo por minha sogra: o Dicionário por imagens da fazenda. O livrinho é a tradução de um volume de uma pequena coleção francesa, o que explica sua completude e excelente qualidade. Nele não são mencionados apenas os elementos tradicionais que compõem uma fazenda, mas diferentes tipos de fazendas são aprensentados, de várias regiões do mundo, revelando suas belezas e peculiaridades. Além disso, há páginas dedicadas às diversas produções de alimentos, como o pão, o leite e derivados. As ilustrações são excelentes, bem realistas, e os textos são claros.

Infelizmente, parece que o livrinho sumiu das prateleiras, mas outros exemplares da mesma coleção ainda podem ser encontrados, como o Dicionário por imagens do mar e o Dicionário por imagens da Bíblia, que eu não conheço pessoalmente, mas que, se forem bons como o da fazenda, valem a pena.

Enfim, quem precisar de recursos para estimular nas crianças o desenvolvimento de virtudes como a paciência, o empenho, o respeito, a perseverança, aí estão algumas sugestões.