Muitos certamente já ouviram o conselho das comissárias de bordo: primeiro coloque a sua máscara de oxigênio, depois ajude os demais a colocarem as deles. O princípio é bastante claro: se você não garantir a sua própria vida, será inútil preocupar-se com a vida dos demais. Por curioso que possa parecer, a educação domiciliar parece-me muito com a situação sobre a qual nos advertem as comissárias. Ou, como dizem os Bluedorn (do Teaching the Trivium), o homeschooling salva duas gerações: a dos pais e a dos filhos, mas, primeiro, a dos pais.
Isso acontece porque, excetuando as raras famílias que têm condições de contratar professores paticulares, antes de pretender ensinar alguma coisa aos filhos, os pais precisam eles mesmos relembrar ou até aprender os conteúdos a serem tratados. Assim, por buscar uma educação melhor que a oferecida pelas instituições disponíveis, sejam elas públicas ou particulares, e buscando também uma educação melhor que a que eles próprios receberam, os pais acabam corrigindo falhas, preenchendo lacunas, vencendo dificuldades e aprendendo coisas que, de outra maneira, em geral, muito dificilmente o fariam. E é então que começa o “salvamento” da primeira geração, com a possibilidade da correção do trajeto educacional no qual fomos colocados antes mesmo que pudéssemos discernir se aquele era o melhor rumo para nossas vidas.

Mas quando falamos em educação domiciliar, não falamos meramente de conteúdos, como se a sala de aula fosse transferida para a sala de casa, mas falamos principalmente de exemplos. O fato de as crianças não mais saírem de casa para ir à escola e já não estarem sob a autoridade de um terceiro para o aprendizado de determinados conteúdos faz com que o tempo de convívio em casa ganhe novos contornos e significados. Passa-se a compreender mais profundamente a importância da coerência para o exercício da autoridade, para a manutenção da hierarquia familiar e, consequentemente, para o sucesso nos estudos: aquela criança que é cobrada sobre determinado comportamento é a mesma que verá se os próprios pais comportam-se ou não de acordo com aquilo que estabelecem como padrão para ela; casos de pais ao estilo “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” inevitavelmente minam sua própria autoridade, subvertem a estrutura familiar e comprometem o aprendizado de seus filhos. E este é, segundo me parece, um dos maiores perigos contra uma educação domiciliar bem sucedida.

O princípio em questão, em se tratando de exemplos, segue também o conselho das comissárias: coloque, primeiro, a sua máscara para depois poder ajudar os demais. Isto é, na prática cotidiana, o “colocar a sua máscara” significa, entre outras coisas, o seguinte: 
Em uma época como a nossa, de evidente declínio intelectual, moral e espiritual, onde o avião civilizacional perde altitude rápida e desgovernadamente, certamente não conseguiremos influir o suficiente para o salvamento de toda a tripulação, mas podemos fazer a nossa parte, empreendendo aquilo que está ao nosso alcance para salvarmos a nós mesmos e aos nossos filhos. Afinal, esta é a nossa parcela de responsabilidade.

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