Historicamente, no entanto, contam-se séculos, milênios até, de tradição oral, onde as histórias, músicas, mitos e lendas realmente importantes para um determinado povo eram transmitidas oralmente de geração em geração e assim perpetuadas através do tempo. Além disso, são facilmente perceptíveis os fatos de que, primeiro, aprendemos a falar, reproduzindo os sons que ouvimos, depois, bem depois, aprendemos que a tais sons corresponde um código escrito que os representa e então aprendemos a ler e escrever. Logo, não é de espantar que em nossos primeiros anos de vida naturalmente aprendamos tanto, tão rapidamente e guardemos muito em nossa memória, seja lá o que for.
Eu, particularmente, não tive a sorte de alimentar minha memória com bons conteúdos, como poesias, por exemplo. Quando procuro me lembrar de quais coisas de minha infância eu ainda sei de cor, voltam-me facilmente à lembrança as músicas das aberturas das novelas (vocês não imaginam o que é acordar com o Luiz Caldas cantando “Tieta do Agreste” dentro da sua cabeça, ou o Sidney Magal cantando a vinheta da “Rainha da Sucata” – e vocês estão rindo porque não é na cabeça de vocês =D ), Raul Seixas, Belchior, ou então aquelas cantigas infames e bagaceiras que os meus tios me ensinavam (“Coelhinho se eu fosse igual a tu…”), ou ainda um repertório de palavrões mais vasto que o do professor Olavo de Carvalho.
Graças a Deus o destino não precisa ser idêntico ao começo, portanto, agora, com a Chloe, eu e Gustavo temos feito um trabalho diferente: no começo do ano, um pouco antes de ela completar sete anos, iniciamos um programa de memorização de versículos bíblicos. À época, como ainda éramos protestantes, trabalhávamos também a memorização de passagens do Catecismo Batista. De julho para cá, no entanto, substituímos aquele pelo Catecismo da Igreja Católica.
O programa é amplo e desenvolvido em níveis crescentes de dificuldade, de maneira que Chloe passeia por diversos livros e retoma as leituras em cada um deles depois de um certo tempo. Os diferentes versículos são agrupados por assunto, o que facilitará, no futuro, o estabelecimento de conexões entre as diferentes partes da Escritura. A técnica que utilizamos é simples: a leitura do texto, a cópia do texto e a recitação em voz alta, primeiro lendo, depois “de cabeça”. Quando ela consegue repetir todo o texto sem erros, então a missão está cumprida.
Claro, às vezes ela desconhece as palavras utilizadas. Neste caso, explico-lhe o significado ou digo-lhe para pesquisar no dicionário. Muitas vezes ela não entende o que o texto quer dizer, então procuramos explicá-lo de um modo que se torne ao menos um pouco mais compreensível.
Dias atrás eu havia prometido, no facebook, a publicação de um post que mostrasse um pouco deste nosso trabalho. Infelizmente, porém, Chloe não conseguiu repetir novamente os nove primeiros versículos de Romanos 8. Como, no entanto, a finalidade da memorização não é a gravação de um vídeo para vocês (embora ela ache isso muito legal =) ), resolvi não forçá-la e deixei que escolhesse um texto que a agradasse mais. Assim, ela optou pelos seis primeiros versículos do Salmo 19. Claro, por tratar-se de uma passagem repleta de metáforas que evocam lindas imagens, seu registro ficou mais forte que o registro de Romanos 8, o qual é beeeem abstrato.
Acreditamos, de coração, que tais exercícios serão extremamente úteis para a Chloe em seu futuro, não somente por aumentarem sua capacidade memorativa, mas especialmente porque a educação que temos procurado transmitir-lhe não é apenas para a presente vida, mas para a vida eterna, junto de Deus.