Tudo se torna morbidamente mais fácil quando alguém nos diz o que fazer, como fazer e quando fazer. Em termos educacionais, a lei que estabelece a idade obrigatória para o início da frequência à escola faz isso, de modo que poucos questionam a real necessidade de uma criança de quatro anos ficar um turno inteiro (ou até dois) longe da família, cercada de estranhos, “estudando”. Sem mencionar todos os pormenores de carga horária, materiais, metodologias “burrocraticamente” fixados, definidos por alguma entidade etérea qualquer.

Nesse contexto, se, por um lado, as políticas educacionais do governo nos oferecem um controle minucioso e uma padronização dos ritmos da vida de nossas crianças, exigindo de nós apenas a adesão automática, por outro, o homeschooling pode parecer um salto em queda-livre e sem paraquedas, dada a grande liberdade que possibilita, não somente com respeito à idade de início dos estudos, mas também com relação aos métodos, materiais, horários etc.

Mas afinal, existe uma idade certa para se começar o homeschooling? Não, rigorosamente falando, não existe. “Oh! Mas como assim?!” Veja, quando eu era criança, a idade indicada em lei era 7 anos. Alguns anos atrás, recuou-se um ano, estabelecendo em 6 a idade correta. Isso tudo não soa um tanto aleatório? Além disso, se considerarmos a vida familiar corriqueira, quando é que um pai passa a ensinar ao filho: Quando senta ao seu lado para explicar-lhe adição ou quando, muito tempo antes, conversa com ele já nos primeiros dias de vida?

Como no homeschool a instrução ocorre no seio do lar, é a familiaridade quem modula os ritmos, independentemente do método adotado. Conheço um menino que aprendeu os números sozinho e aos 2 anos já fazia somas elementares. Conheço um outro menino que só deslanchou na leitura a partir dos 8 anos de idade. A mãe do primeiro deveria ter desviado a atenção que o filho focava sobre os números para algo mais adequado à sua idade? A mãe do segundo deveria ter desistido de estimular o filho e tê-lo entregue às “autoridades” educacionais, isto é, à escola? Não e não. Por certo a mãe do primeiro menino não estruturava aulas como a do segundo, mas isso não significa que não oferecesse a ele o suporte necessário para desenvolver sua aptidão natural, assim como a segunda certamente usufruiu da liberdade que possuía para investir mais tempo na superação das dificuldades do filho.

Acredito que no homeschool os elementos mais importantes são o estar atento às inclinações e interesses da criança, ao seu ritmo, e também o proporcionar a ela os recursos necessários ao seu dessenvolvimento. Assim, pode acontecer de uma família elaborar aulas propriamente ditas desde os 3, 4 anos de idade da criança, assim como pode acontecer de uma outra família começar a fazê-lo somente por volta dos 7 anos (o que não quer dizer que a criança que começa a “ter aulas” com tal idade não tenha aprendido muitas coisas antes disso, ainda que de uma maneira menos “oficial”, mais informal). Além disso, em famílias com mais de um filho, quando os mais novos vêem os mais velhos estudando, também querem estudar, o que termina por levá-los à rotina de estudos muito mais cedo e espontaneamente.

Por fim, é importante dizer também que, com o passar do tempo, é normal que a rotina das famílias homeschoolers se estruture de maneira mais organizada e fixa, mas isso é o resultado de um arranjo que combina liberdade e circunstância: a liberdade de poder decidir e as demandas da circunstância real em que se vive. No homeschooling não é o governo quem diz o que, como e quando estudar, mas é a família, aqueles que melhor conhecem e que efetivamente zelam pelo desenvolvimento das crianças, quem decide.

PS: Lembrando aos “liberdadefóbicos” que só pratica HS quem realmente está disposto em investir no crescimento dos próprios filhos, uma vez que enviá-los à escola, como disse, é morbidamente mais fácil.

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  1. Estou muito feliz de ler seus textos. Isso tem me dado força. A mim e a minha família, de uma vez que estamos nos recontruindo a partir da decisão que tomamos. Sinto meu filho de doze anos cada vez mais afetuoso, estudar juntos, em família, não só tem nos aproximado cada vez mais, como também me mostrou o quão longe estávamos. Universo está feliz por não ter mais que ir àquela escola, mas o sinto um pouco confuso, ele tem oito anos, a escola deixou marcas muito nevagivas nele, ele viveu um ambiente de ameaças: ou faz, ou não vai ao recreio, ou a recreação, ou ao banheiro. .. era bem tenso… e é assim que o sinto, muito tenso, e sem vontade, como se em algum momento eu pudesse usar os mesmos argumentos de sua antiga professora. E quanto a Céu, de cinco anos, é como se a escola nunca tivesse existido. Só tenho a agradecer por seu blog.

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