Não raras vezes vejo pais e mães comemorando o interesse dos filhos em livrinhos infantis. Dizem, aliviados, que os filhos gostam de ler, que pegaram gosto pela coisa, que serão estudiosos e por aí vai. O problema é que poucas vezes os pais têm o mesmo entusiasmo para averiguar o tipo de conteúdo presente nos livrinhos e a respectiva mensagem que eles transmitem. Tal imprudência é mais ou menos o mesmo que deixar a criança entregue à TV, alegando que, afinal de contas, trata-se de um inofensivo canal de TV a cabo infantil.
Os engenheiros sociais sabem que juntamente com a influência dos pais (cada vez menor, dado o esfacelamento das famílias e as altíssimas cargas horárias de atividades que as crianças cumprem, hoje em dia, fora do cuidado e da supervisão familiar), a influência exercida sobre o imaginário infantil através das histórias, desenhos, fábulas e até músicas será decisiva para a construção do tipo de “cidadão” desejável. Não por acaso vivemos em uma época em que a nova moda é desconstruir os velhos contos e reescrevê-los, esvaziando-os totalmente dos ensinamentos morais e espirituais que auxiliavam no desenvolvimento, manutenção e fortalecimento das virtudes características da cultura judaico-cristã.
Lançado em 2011, nos EUA, o livrinho acima, cuja tradução do título poderia ser “A noite em que papai foi para prisão”, faz parte de uma série chamada Life’s Challenges, da Capstone. Como vocês podem imaginar, a proposta do livro é bastante explícita em sua intenção de ajudar as crianças a lidar com problemas reais e cada vez mais comuns nas famílias (se você não se chocou com o que acabei de escrever, por favor, faça soar o alarme). A obra, bem como a série da qual faz parte, não receberam, até onde pude averiguar, tradução para a língua portuguesa, mas se não o receberam, certamente apontam para uma nova tendência e para um novo nicho do mercado editorial infantil. Já pensaram no quão úteis podem ser historinhas como “O dia em que mamãe virou prostituta”, “Quando meu irmão tornou-se um dependente químico” e coisas semelhantes?
Em outras palavras, não basta apenas que as crianças adquiram o hábito da leitura ou assistam a programações pretensamente selecionadas de acordo com a idade em que estão. Não. É preciso que adquiram o hábito da leitura lendo boas obras, preferencialmente mais antigas e clássicas, as quais ainda transmitem a riqueza do patrimônio imaginativo e cultural sobre o qual se assenta o Ocidente. Investindo em obras desse tipo, que geralmente encontram-se disponíveis em sebos a preços bem mais em conta do que os últimos lançamentos editoriais, bem como investindo em brinquedos e jogos que realmente estimulem a imaginação e a participação das crianças, não haverá tanto tempo nem tanto desejo de programas de TV. Além disso, é preciso que tenhamos sempre claro que, assim como a qualidade daquilo que comemos afetará nossa saúde física, assim também a qualidade daquilo que lemos, assistimos e ouvimos repercutirá sobre nossa saúde psíquica, moral e espiritual. Os engenheiros socias sabem muito bem disso. Mas e nós, pais e mães brasileiros?
Olá Camila, tudo bom? Acompanho suas postagens tanto por aqui quanto pelo Mídia Sem Máscara.
Olha, eu li o artigo abaixo no site do G1, e gostaria de saber sua opinião.
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/07/distrito-escolar-nos-eua-troca-livros-e-cadernos-por-laptops-24-mil-alunos.html
Parabéns pelo site!
Parabéns pela sensatez, pela coragem de escrever em um mundo sórdido e pela bela família!
Deus os abençoe!
Que horror essa estória do Lobo Mau! É o tal do "politicamente correto" para crianças… Tudo bem que mesmo os pais ensinando e educando, não há como livrar da aproximação de pedófilos ou pessoal mal intencionadas, e muito menos, que um dia, os filhos esqueçam essas estórias quando crescerem… Mas deturpar totalmente um conto infantil clássico seja lá a que título for… Talvez pelo amor aos animais, é demais, né?
Lembrei do Monteiro Lobato que quase foi proibido – se é que não o foi – nas escolas… Não tenho filhos então pouco acompanho esse cotidiano, mas os assuntos educacionais me interessam muito…
Olá, Cris e Trevor!
Obrigada pela visita e pelos comentários!
Que Deus os abençoe também!
Oi, Rodrigo! Comigo, tudo bem. E contigo?
Acabei de ler a notícia no G1 e achei interessante. Mais cedo ou mais tarde algum lugar tentaria algo nessa direção, rumo à digitalização total.
Achei bacana o fato de não terem liberado as crianças menores do exercício de caligrafia durante a alfabetização (coisa que, aqui no Brasil, professores, alunos e pais costumam dar um dedo para verem-se logo livres).
Mas quem acertou em cheio, na minha opinião, foi aquele especialista entrevistado ao final: a tecnologia só poderá ser bem aproveitada quando as escolas souberem precisamente o que querem com ela. Caso contrário, virará perfumaria.
Por fim, acredito que, apesar das melhorias nos desempenhos e comportamentos dos alunos, só o tempo poderá dizer se tal modificação metodológica e estrutural foi essencialmente boa para todos, se ela promoveu de fato uma mudança a longo prazo, se "engajou" (eita palavrinha mais na moda) os alunos em suas próprias formações, se a disposição deles para a pesquisa e estudo mudou realmente, ou se trata-se apenas de uma mudança superficial, relacionada exclusivamente com a ferramenta utilizada e não com o conhecimento em si.
Obrigada pelo envio do link. Vou procurar prestar mais atenção a estes novos movimentos.
Um abraço!
Gostei muito do texto, e acompanho, na medida do possível o que minhas filhas veem na tv, mas me atentei mais pro super why quando minha filha disse que a historia de verdade não era do jeito "super why" e me toquei, eles sempre mudam a historia, e não há nada muito inofensivo na discovery kids, bons desenhos não ficam muito tempo no ar, sempre tem muito lixo e engenharia social que pode passar desapercebida, devemos estar atentos sempre e limitar o tempo na tv, que deve ser orientado limitado e acompanhado.
hoje me perguntei: quem está doutrinando meus filhos?
a tv tem mais espaço na vida deles do que eu?
p.s. gostei muito dos textos sobre educação liberal e trivium.
tempos dificeis que exigem mais de nós, pais…
Oi, Leonardo!
Pois é, essa é uma boa questão: será que os tempos exigem mais de nós ou nós é que nos descuidamos da nossa vocação? E quando eu digo "nós", não me refiro especificamente a mim e a ti, mas à nossa geração como um todo.
Talvez tenhamos que reaprender o que seja a maternidade e a parternidade, pois o que mais temos ao nosso redor são pessoas se reproduzindo e abandonando emocional, moral e espiritualmente umas às outras.
Você faz bem em levantar tais questionamentos. Que Deus nos ajude.
Um abraço e muito obrigada pela visita e pelo comentário!